O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.” Bertold Brecht
Brecht, em seu poema-denúncia, Analfabeto Politico, nos diz como a ignorância política é a matriz de vários males sociais, desde a prostituição até o preço das coisas mais comezinhas e que a omissão deve ser combatida.Mais: que se não nos empenharmos, seremos tão responsáveis por um estado de permanente injustiça quanto os que as legitimam através do mau discurso e da práxis política degenerada.
Mas por que trazer aqui essa manifestação? Porque a ignorância política é uma endemia, é uma tristeza da cidadania, é uma incivilidade sem par.
No sábado sofremos um acidente com um ônibus da CARRIS. Conversando com a vice-diretora da escola em que meu filho estuda contei-lhe o fato, mais para justificar o pequeno atraso na entrada de hoje pela manhã do que por qualquer outro motivo. Foi então que uma senhora, a qual não conheço, começou um discurso dizendo: “… é da CARRIS, né? É tudo culpa do governo. Aliás, não sei nem em quem votar, porque é um bando de vagabundos. Esses políticos são todos iguais!” Até agora estou procurando algum nexo entre o sinistro e a época eleitoral em que estamos vivendo. Não consegui atinar com nenhum até agora. Menos ainda com o alegado fato de que os políticos “são vagabundos”. Sempre os reducionismos perdem em sentido na mesma medida em que ganham em estupidez.
Meses atrás fui a uma agência dos Correios. Uma senhora reclamava que não havia recebido uma encomenda. A moça dos correios vasculhava suas anotações e mostrava para a mesma que nada havia sido recebido pela agência. O discurso: “Esse país não vale nada, nada funciona, tudo culpa do Lula. Bem faz o meu filho que foi morar nos Estados Unidos, e não nesse inferno de lugar”.
Ora, não é a primeira nem será a última vez que vou ouvir tais sandices. O problema é que as mesmas são ditas por senhoras classe média, o que realmente me deixa apreensivo. Se essas pessoas, que detém possibilidade de informação, e que tiveram uma educação no mínimo mediana se portam dessa maneira e dizem tais bobagens, o que será da maioria que não tem acesso muitas vezes ao mínimo do mínimo?
Outro diz que as eleições são benditas, porque, como ele é funcionário público, vai trabalhar como mesário só pra tirar dois dias por turno de trabalho nas eleições. Viva, esse é o único motivo pelo qual as eleições são bem-vindas, o resto que se exploda!
Agora, por exemplo, que estamos em campanha eleitoral para a prefeitura, o efeito burrice simplificatória tem realmente sido muito incrementado. Bobagens a todo instante mostram que não adianta simplesmente ter, é necessário mais. Sugere-se pensar. Brecht avisou, mas não adianta, a ignorância insiste: por vezes de modo sutil, por vezes de modo tonitroante. Mas que insiste, ah, sem dúvida…