Crimes reais fascinam leitores e abastecem livrarias

FONTE DIVIRTA-SE UAI

http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2014/03/10/noticia_arte_e_livros,152348/crimes-reais-fascinam-leitores-e-abastecem-livrarias.shtml

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Crimes reais fascinam leitores e abastecem livrarias

Grandes roubos, golpes, fraudes e assassinatos são explorados em livros que enfocam a vida de criminosos

 
Fellipe Torres – Diário de PernambucoPublicação:10/03/2014 09:37
 
 
 
Ilana Casoy se especializou na área criminal

De vez em quando a gente torce pelo bandido do filme, mesmo. “Isso, cuidado ali atrás, atira no guarda! Rouba logo esse banco, cara, corre daí, lá vem a polícia, deixa de ser burro!”. Mas, se em alguns casos vemos nos foras-da-lei a personificação moderna do Robin Hood, em outros, ficamos chocados pela barbárie, pelo sangue frio, pela maldade. O interesse pelo errado vai além da ficção. É quando os vilões da vida real suscitam em nós curiosidade maior do que gostaríamos de admitir. Buscamos as minúcias biográficas, os crimes, as manias dos contraventores.

Um caso criminal que se destaca é a autobiografia do corretor Jordan Belfort, ‘O Lobo de Wall Street’ (de Jordan Belfort, 504 páginas, R$ 49,90), entre os dez mais vendidos segundo do país na categoria não-ficção e cuja adaptação para o cinema disputou o Oscar. O filme conta como o especulador financeiro “ganhou a vida” em meio a escândalos e  fraudes, além de ter usufruido de uma rotina à base de drogas, álcool e sexo indiscriminado. A editora Planeta reedita o livro de 2008 e lança a continuação da história, ‘A caçada ao Lobo de Wall Street’ (464 páginas, R$ 54,90).

Na sétima arte, no videogame violento ou na fila do pão, “o mal está em todos nós”, sentencia o psicólogo norte-americano Philip Zimbardo, professor da Universidade de Stanford e autor do livro ‘O efeito Lúcifer: Como pessoas boas se tornam más’ (Record, 760 páginas, R$ 88). Na interpretação do psiquiatra forense Feliciano Abdon, esse “mal” pode ser traduzido como “o conjunto de todos os nossos sentimentos de curiosidade, de inveja, de gostar ou sentir prazer em coisas impactantes”.

Interpretar as consequências desse interesse se tornou a missão de vida da pesquisadora paulistana Ilana Casoy, escritora na área de violência e criminalidade. Ela acompanhou de perto casos emblemáticos, como o assassinato dos pais pela jovem Suzana von Richtofen e o homicídio da criança Isabela Nardoni. “Meu diferencial é não estar ligada a nenhuma instituição. Não sou polícia, advogada ou psiquiatra”, resume Casoy.
Com a linguagem do público, ela apresenta informações inéditas. “Não há ficção, porque tudo o que eu escrevo consta nos processos ou é fruto de minha participação direta. Isso ser um filão de mercado é consequência e não um projeto. Eu, por exemplo, já gostava do assunto, pesquisava bastante”. Para o psiquiatra Othon Bastos, a internet aproximou muito o público dos problemas da existência de uma maneira geral, e a doença mental é um fato intrigante em si. “Nada mais natural, portanto, que o cidadão comum se interesse por esses desvios, pela doença mental, que é a doença humana por excelência”, assevera.

Na literatura brasileira, a criminalidade é um mote recorrente. Mas o caminho nem sempre agrada quem vive de reconstituir trajetórias alheias. O crítico literário carioca José Castello, autor de livros sobre Vinícius de Moraes, João Cabral de Melo Neto e Rubem Braga, diz que jamais aceitaria a tarefa. Para ele, os cuidados precisariam ser redobrados, pois seria grande a possibilidade de o criminoso continuar usando máscaras.

“Corre o risco de você terminar biografando o personagem deles ao invés da pessoa. É um terreno pantanoso, para o qual me sinto despreparado”. Diante de clássicos como ‘A sangue frio’, de Truman Capote, Castello reforça que o autor precisou se envolver com o personagem. “São pessoas sedutoras, de personalidade duvidosas. Elas vão aceitar participar de um processo desses, e a questão da sedução vai se exarcebar mais ainda. O risco de você cair na armadilha é grande”.

O perigo é descrito no livro ‘O jornalista e o assassino’, de Janet Malcom, sobre o relacionamento entre um acusado de assassinar a família e um biógrafo. O criminoso processa o escritor – com quem manteve uma relação de amizade em troca de dividir a intimidade e os bastidores do julgamento pelo qual fora inocentado. Motivo: a versão publicada (na obra ‘Fatal vision’) difere da previamente acordada entre ambos – da qual dividiriam até os lucros. “Se [o interlocutor] é assassino ou corrupto, vai fazer o máximo para desmentir a imagem. Está no direito dele. Mas isso só deixa o terreno mais pantanoso”, conclui José Castello.

ENTREVISTA >>> Psiquiatra Othon Bastos

Como enxerga o fascínio do público leitor pelas biografias e os atos criminosos cometidos por transgressores da lei?

O interesse por essas figuras sempre existiu. Entre elas, há aquelas pessoas que adoeceram mentalmente (tiveram depressão, exaltações, delírios…) e aquelas que têm um modo de estar no mundo bastante específico (traços de personalidade que podem ser genéticos ou não). A história mostra que entre esses transgressores há muitos casos de transtornos de personalidades, de personalidade amoral (ou borderline, como a psiquiatria chama). São pessoas sem censura ética, que se comprazem em aplicar sofrimento aos outros, como é o caso dos torturadores.

Como separar, então, psicopatas, sociopatas, e bandidos sem transtornos mentais?
Psicopatia não é, a rigor, uma doença. É uma má formação ou má estruturação da personalidade. No caso do sociopata, ele não tem o que chamamos de superego, a censura individual. Em um país miserável como o nosso, os atos daqueles que roubam por necessidade são muito diferentes do que faz um black bloc que destrói lojas ou fere pessoas.
Esse último pode se encaixar dentro do conceito de sociopatia, que gera a conduta anti-social. Essas ações podem até ter justificativas políticas e sociais, mas não deixam de ser crimes contra a sociedade. É preciso entender que todos os animais são violentos, inclusive os homens. Tornar-se violento é apenas usar a força psíquica ou física sobre algo ou alguém. Uma diferença entre o animal e o homem é que o animal não mata por prazer. Já o homem, por exemplo, pratica a caça, que é o prazer de destruir. Ele é agressivo por definição, é territorial, é competitivo.

Na visão do senhor, o interesse pelos criminosos e por seus atos ilegais tem aumentado?
Sim. A internet aproximou muito o público dos problemas da existência de uma maneira geral, e a doença mental é um fato intrigante em si. Nada mais natural, portanto, que o cidadão comum se interesse por esses desvios, pela doença mental, que é a doença humana por excelência.
Isso não significa, obviamente, que todo criminoso violento seja esquizofrênico ou possua doença mental grave. Mas quase sempre há algum transtorno de personalidade.

Consumir esse tipo de história, seja em livro, filme ou jornal, pode ser considerada atividade saudável?
Há uma promoção do crime por parte da mídia que, a meu ver, é muito negativa. Na minha televisão não sintonizo nenhum Datena ou coisa que o valha. Acredito que deve ser evitado um exagero em relação ao espaço dedicado a divulgar homicídios e suicídios. Uma das regras da saúde mental é evitar publicidade de suicídio de pessoas. Há uma banalização disso tudo.

PRATELEIRA DO CRIME
Seção

FRAUDES, GOLPES E ESTELIONATO
‘Vips – Histórias reais de um mentiroso’, de Mariana Caltabiano (Jaboticaba, 192 páginas, R$ 44,50)
A história do vigarista e mentiroso compulsivo Marcelo Nascimento da Rocha. Ele enganou jornais, revistas e programas de TV fingindo ser quem não era. Virou filme.

‘Al Capone e gangue’, de Alan MacDonald (Companhia das Letras, 192 págs., R$ 31,50)
Debruça-se sobre hábitos e mitificação do bandido, um homem mau, feio, rico, corrupto, poderoso e desumano, que andava com metralhadora debaixo do braço.

‘Meu nome não é Johnny’ (Record, 336 páginas, R$ 44,90), de Guilherme Fiúza
Narra como o playboy João Guilherme Estrella se tornou personagem graúdo da vida bandida carioca. Envolveu-se com drogas e entrou no mundo do dinheiro fácil.

ROUBOS E FURTOS

‘Bling ring – A gangue de Hollywood’ (Intrínseca, 272 páginas, R$ 24,90), de Nancy Jo Sales
Como um grupo de jovens ricos passaram a roubar e ostentar pertences de estrelas de Hollywood. Autora entrevistou envolvidos, advogados e as vítimas.

‘Bonnie e Clyde – A vida por trás da lenda’ (Larousse, 432 páginas, R$ 69,90), de Paul Schneider
Casal virou os EUA de cabeça para baixo nos anos 1930, criou a noção de “bandido celebridade” e ainda inventou mitologia explorada tanto pela ficção.

‘Inimigos públicos’ (Globo Livros, 520 páginas, R$ 49,90), de Bryan Burroug
Narra a ascensão e a queda de seis lendárias facções criminosas dos anos 1930 nos EUA – as de John Dillinger, Baby Face Nelson, Pretty Boy Floyd, entre outros.

ASSASSINATOS

‘Richthofen – O assassinato dos pais de Suzane’, de Roger Franchini (Planeta, 129 páginas, R$ 19,90)
O caso da estudante de direito mandante do assassinato dos próprios pais, mortos a pauladas pelos namorado e cunhado. Informações novas são trazidas à tona.

‘A prova e a testemunha’, de Ilana Casoy (Larousse Brasil, 240 páginas, R$ 29,90)
Trata do caso Isabella Nardoni, garota de 5 anos atirada por pai e madrasta do sexto andar de edifício em São Paulo. Autora acompanhou o inquérito por dois anos.

‘O nome da morte” (Planeta, 245 páginas, R$ 39,90), de Kléster Cavalcanti
Autor pernambucano conta a história de Júlio Santana, matador profissional. Em 35 anos de “ofício”, ele teria matado quase 500 pessoas – tudo contabilizado em caderno.

 

18 coisas que las personas altamente creativas no hacen igual que el resto

FONTE THE HUFFINGTON POST

http://www.huffingtonpost.es/2014/03/07/18-cosas-que-las-personas_n_4918760.html

18 cosas que las personas altamente creativas no hacen igual que el resto

THE HUFFINGTON POST  |  Por Publicado: 07/03/2014 16:27 CET  |  Actualizado: 07/03/2014 16:30 CET

 
Creativity
 

La creatividad funciona de una forma misteriosa y a menudo paradójica. El pensamiento creativo es una característica estable, que define algunas personalidades, pero que también puede cambiar dependiendo de la situación y del contexto. A veces, la inspiración y las ideas vienen sin más, y luego, cuando más las necesitamos, no aparecen; el pensamiento creativo requiere un conocimiento complejo, si bien es completamente independiente del proceso de pensamiento.

La neurociencia ofrece una imagen muy compleja de la creatividad. Según plantean los científicos, la creatividad no es tan simple como la división entre las regiones derecha e izquierda del cerebro (la teoría dice que el hemisferio cerebral izquierdo es racional y analítico, mientras que el derecho es creativo y emocional). De hecho, se piensa que la creatividad implica numerosos procesos cognitivos, vías neuronales y emociones; aún no disponemos de una panorámica completa que explique cómo funciona una mente imaginativa.

Psicológicamente hablando, los tipos de personalidad creativa son difíciles de determinar, sobre todo porque son complejos, paradójicos y tienden a evitar el hábito o la rutina. No se trata de generalizar el estereotipo del “artista torturado”, pero sí es verdad que los artistas suelen tener una personalidad compleja. Las investigacionessugieren que la creatividad implica la unión de una multitud de rasgos, comportamientos e influencias sociales en una misma persona.

“Es cierto que a la gente creativa le resulta difícil conocerse a sí misma, puesto que el yo creativo es más complejo que el yo no creativo”, informa Scott Barry Kaufman, psicólogo de la Universidad de Nueva York que ha pasado varios años investigando sobre la creatividad. “Las cosas que sobresalen más son las paradojas del yo creativo… Las personas con mucha imaginación tienen una mente más caótica”.

Aunque no existe la definición exacta de la “típica” persona creativa, hay algunos rasgos y actitudes que caracterizan a las personas altamente creativas.

Estas son 18 cosas que las diferencian del resto.

Sueñan despiertos

daydreaming child

A pesar de lo que sus profesores les dijeran, las personas creativas saben que soñar despiertos no es, en absoluto, una pérdida de tiempo.

Según Scott Barry Kaufman y la psicóloga Rebecca L. Mcmillan, ambos autores del artículo Ode To Positive Constructive Daydreaming [Oda a lo positivo y constructivo de soñar despierto], dejar que la mente merodee libremente puede contribuir al proceso de “incubación creativa”. Por supuesto, muchos de nosotros sabemos por experiencia que las mejores ideas se nos ocurren de repente, cuando tenemos la mente en las nubes.

Aunque nos puede parecer que soñar despierto es una actividad sin sentido, un estudio de 2012 sugiere que, en realidad, dicho proceso va ligado a un estado cerebral muy dinámico y exigente, pues conlleva conexiones y percepciones en relación con nuestra habilidad para captar la información frente a las distracciones. También se ha descubierto que soñar despierto activa los mismos procesos cerebrales que se asocian a la imaginación y la creatividad.

Lo observan todo

Las personas creativas se comen el mundo; ven posibilidades en cualquier lugar y están constantemente recopilando información que pueda servir para la expresión creativa. Como solía decir Henry James, “nada se pierde” en la mente de un escritor.

La escritora Joan Didion siempre llevaba encima un cuaderno en el que anotaba cualquier observación sobre la gente y los acontecimientos con el fin de entender mejor las complejidades y contradicciones de su propia mente:
“Por muy diligentemente que anotemos lo que vemos a nuestro alrededor, el común denominador de todo lo que vemos es siempre, de forma transparente y desvergonzada, el implacable ‘yo'”, escribió Didion en su ensayo “Sobre tener un cuaderno de notas”. “Estamos hablando de algo privado, de fragmentos de la cadena mental que son demasiado cortos para usarlos, de un ensamblaje indiscriminado y errático que solo reviste significado para quien lo lleva a cabo”.

Elaboran sus propios horarios de trabajo a su medida

Muchos grandes artistas afirman que cuando mejor hacen su trabajo es o por la mañana temprano o a altas horas de la noche. Vladimir Nabokov empezaba a escribir inmediatamente después de levantarse, a las 6 o a las 7 de la mañana; Frank Lloyd Wright decía que se había acostumbrado a levantarse a las 3 o a las 4 de la mañana, ponerse a trabajar durante unas horas, y luego volverse a acostar. Independientemente de cuál sea su horario, los individuos altamente creativos suelen saber en qué momento del día su mente está más activa, y en función de esto, organizan sus días.

Se reservan unos momentos de soledad

solitude

“Para estar más abiertos a la creatividad, tenemos que ser capaces de usar nuestra soledad de forma constructiva. Debemos superar el miedo a estar solos”, escribió el psicólogo existencialista estadounidense Rollo May.

Con frecuencia, se describe a los artistas como personas solitarias. Aunque no siempre se cumple, la soledad puede ser una de las claves para llevar a cabo obras maestras. Para Kaufman, podemos volver a relacionar esta idea con el hecho de soñar despiertos; tenemos que concedernos momentos de soledad y, simplemente, dejar volar nuestras mentes.

“Tienes que contactar con tu yo interior para poder expresar tus pensamientos más internos”, explica. “Es difícil encontrar esa voz creativa si no mantienes ningún contacto con tu interior ni reflexionas sobre ti mismo”.

Saben aprovechar los problemas que les plantea la vida

Muchas de las historias míticas y de las canciones de todas las épocas han sido inspiradas por un drama o por un desamor; lo bueno de estos retos es que al final han servido como catalizador para crear arte. Los investigadores que estudian el crecimiento post-traumático, un ámbito de la psicología en auge, sostienen que mucha gente es capaz de emplear las dificultades y los traumas que sufrieron de pequeños para aumentar sustancialmente su creatividad. En concreto, se ha descubierto que los traumas pueden contribuir a que la gente desarrolle las áreas encargadas de las relaciones interpersonales, de la espiritualidad, el aprecio por la vida, la fuerza personal y, lo que es más importante para la creatividad, la capacidad de exprimir al máximo las posibilidades que te ofrece la vida.

“Mucha gente es capaz de utilizar esto como la gasolina que necesitan para descubrir una perspectiva diferente de la realidad”, afirma Kaufman. “En algún momento de su vida, se ha desmontado la visión que tenían del mundo como un lugar seguro […], haciéndoles salir a la periferia a ver las cosas de una forma diferente, renovada; es esto lo que conduce a la creatividad”.

Buscan nuevas experiencias

solo traveler

A la gente creativa le encanta lanzarse a probar nuevas experiencias, sensaciones y estados mentales. Esta apertura y amplitud de miras suele activar de manera significativa la creatividad.

“Estar abierto a nuevas experiencias te lleva, la mayoría de las veces, a obtener logros creativos”, asegura Kaufman. “Esta idea presenta muchas facetas diferentes, pero todas relacionadas entre sí: la curiosidad intelectual, la búsqueda de sensaciones, el no tener miedo a mostrar tus emociones ni tu fantasía. Lo que une a todas estas características es el camino hacia la exploración cognitiva y conductual del mundo, tanto interno como externo”.

Se caen y vuelven a levantarse

resilience

La resiliencia prácticamente es un prerrequisito para el éxito creativo, afirma Kaufman. El trabajo creativo a menudo se describe como un proceso de fallos repetidos hasta acabar encontrando algo que encaja y que funciona. Las personas creativas, al menos las que tienen éxito, aprenden a no tomarse demasiado a pecho los errores.

“La gente creativa fracasa, y los que son buenos de verdad fracasan más de una vez”,escribió Steven Kotler, colaborador de Forbes, en una pieza sobre el genio creativo de Einstein.

Plantean grandes preguntas

La gente creativa es insaciablemente curiosa; normalmente, optan por cuestionar cualquier aspecto de la vida, e incluso cuando envejecen mantienen su sentido de la curiosidad. Ya sea mediante una conversación intensa o mediante una reflexión en solitario, las personas creativas observan el mundo a su alrededor y quieren saber por qué, y cómo, funcionan las cosas.

Observan a las personas

people watching

Son observadores por naturaleza y tienen curiosidad por la vida de los demás; a las personas creativas les suele gustar observar a la gente, y a menudo extraen algunas de sus mejores ideas de ahí.

“[Marcel] Proust pasó la mayor parte de su vida observando a la gente, anotó sus observaciones, y las reflejó en sus libros”, explica Kaufman. “Para muchos escritores, observar la vida de la gente es muy importante… Son buenos observadores de la naturaleza humana”.

Se arriesgan

Una parte del trabajo creativo implica correr riesgos; muchas personas creativas disfrutan del riesgo en diversos aspectos de su vida.

“Existe una conexión profunda y significativa entre el riesgo y la creatividad, aunque a menudo se pase por alto”, escribió Steven Kotler en Forbes. “La creatividad es el acto de fabricar algo de la nada. Requiere hacer públicas las apuestas mejor posicionadas en tu imaginación. No es un trabajo para los tímidos. Perder el tiempo, empañar tu reputación y no gastar demasiado bien el dinero son algunas de las consecuencias negativas que puede tener la creatividad”.

Consideran que todo en la vida es una oportunidad para la expresión propia

self expression

Nietzsche creía que la vida y el mundo deberían considerarse obras de arte. Las personas creativas tienden a ver el mundo de esta manera, y a buscar constantemente cualquier oportunidad de autoexpresión en la vida diaria.

“La expresión creativa es la expresión de uno mismo”, afirma Kaufman. “La creatividad no es otra cosa que la expresión individual de tus necesidades, de tus deseos y de tu naturaleza única”.

Siguen sus pasiones verdaderas

La gente creativa suele tener una motivación intrínseca; esto es, una persona creativa está motivada a actuar desde sus más internos deseos, en lugar de buscar el reconocimiento o las recompensas externas. Muchos psicólogos han demostrado que la gente creativa obtiene su energía de las actividades que le plantean desafíos, lo cual es una muestra de la motivación interna. Las investigaciones sugieren que solo con pensar en los motivos intrínsecos que te mueven a hacer algo se puede activar la creatividad.

“Los mejores creadores deciden implicarse con pasión en cuestiones complejas y arriesgadas que les proporcionan un importante sentido del poder por la capacidad de utilizar su talento”, escriben M.A. Collins y T.M. Amabile en The Handbook of Creativity.

Salen de sus propias mentes

creative writing

Kaufman señala que otro objetivo de soñar despierto es ayudarnos a salir de nuestra perspectiva limitada y explorar otras formas de pensamiento, que pueden ser una baza importante para el trabajo creativo.

“Soñar despierto nos permite evadirnos del presente”, explica Kaufman. “La misma red cerebral asociada con la imaginación está vinculada a la teoría de la mente; esta nos permite imaginar lo que está pensando alguien o fantasear sobre cómo será nuestro “yo” futuro”.

Otras investigaciones también señalan que inducir la “distancia psicológica” (es decir, pensar desde la perspectiva de otra persona o reflexionar sobre una cuestión como si fuera irreal o desconocida) puede activar el pensamiento creativo.

Pierden la noción del tiempo

Las personas creativas pueden pensar que cuando están escribiendo, bailando, pintando o expresándose, entran “en la zona”, lo que se conoce como estado de flujo, que puede ayudarlos a crear a su máximo nivel de expresión. Dicho flujo es un estado mental en que un individuo va más allá de su pensamiento consciente para alcanzar un estado superior de concentración y calma sin esfuerzo. Cuando alguien alcanza este estado es prácticamente inmune a cualquier presión o distracción, sea interna o externa, que pueda entorpecer su actividad.

Entras en esa zona cuando realizas una actividad con la que disfrutas y que se te da bien, pero que a la vez te plantea retos; es lo que define a un buen proyecto creativo.

“[Las personas creativas] han descubierto su pasión, pero también han desarrollado su capacidad para entrar en el estado de flujo”, asegura Kaufman. “Este estado mental requiere una conexión entre tus habilidades y la tarea que has emprendido”.

Se rodean de belleza

Las personas creativas suelen tener un gusto excelente y, por ello, disfrutan de la belleza y se rodean de ella.

Un estudio publicado recientemente en la revista Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts reveló que los músicos (incluidos los miembros de una orquesta, los maestros de música y los solistas) muestran una alta sensibilidad e inclinación hacia la belleza artística.

Saben unir los puntos

doodle

Si hay algo que distinga a las personas altamente creativas del resto es la capacidad de ver oportunidades donde otros no las ven. Muchos artistas y escritores importantes han afirmado que la creatividad se basa en la capacidad de unir los puntos, algo que los demás probablemente nunca se habían planteado.

En palabras de Steve Jobs: “La creatividad simplemente consiste en conectar las cosas. Cuando le preguntas a las personas creativas cómo han hecho algo, se sienten un poco culpables porque en realidad no han creado nada, sino que se han limitado a ver algo. Tras un tiempo, les resulta obvio, pues han sido capaces de conectar las experiencias que habían tenido y de sintetizar cosas nuevas”.

Les gustan los cambios radicales

La diversidad de experiencias es crucial para la creatividad, afirma Kaufman. A las personas creativas les encanta alterar las cosas, tener nuevas experiencias y evitar que su vida se convierta en algo monótono y mundano.

“La gente creativa tiene experiencias más diversas; la rutina es lo que mata esta diversidad de experiencias”, explica Kaufman.

Encuentran tiempo para la meditación

Las personas creativas entienden el valor de la concentración mental, pues su trabajo depende de ella. Muchos artistas, emprendedores, escritores y otros trabajadores creativos, como David Lynch, consideran la meditación como una herramienta para conectar con su estado mental más creativo.

La ciencia respalda la idea de que la meditación realmente puede activar el poder de la mente de muchas formas. Un estudio realizado en 2012 por un equipo holandés señala que algunas técnicas de meditación promueven el pensamiento creativo. Las prácticas de meditación pueden ir ligadas a una mejora de la memoria y de la concentración, a un mayor bienestar emocional, a una disminución del estrés y de laansiedad, y a una mayor claridad mental; todo esto puede fomentar la capacidad de pensamiento creativo.

Traducción de Marina Velasco Serrano

Cerveja: o transgênico que você bebe

FONTE CARTA CAPITAL

http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/cerveja-o-transgenico-que-voce-bebe-300.html

Cerveja: o transgênico que você bebe

Sem informar consumidores, Ambev, Itaipava, Kaiser e outras marcas trocam cevada pelo milho e levam à ingestão inconsciente de OGMs
por Flavio Siqueira Júnior e Ana Paula Bortoletto — publicado 01/03/2014 12:06
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[Este é o blog do site Outras Palavras em CartaCapital. Aqui você vê o site completo]

Por Flavio Siqueira Júnior* e Ana Paula Bortoletto*

Vamos falar sobre cerveja. Vamos falar sobre o Brasil, que é o 3º maior produtor de cerveja do mundo, com 86,7 bilhões de litros vendidos ao ano e que transformou um simples ato de consumo num ritual presente nos corações e mentes de quem quer deixar os problemas de lado ou, simplesmente, socializar.

Não se sabe muito bem onde a cerveja surgiu, mas sua cultura remete a povos antigos. Até mesmo Platão já criou uma máxima, enquanto degustava uma cerveja nos arredores do Partenon quando disse: “era um homem sábio aquele que inventou a cerveja”.

E o que mudou de lá pra cá? Jesus Cristo, grandes navegações, revolução industrial, segunda guerra mundial, expansão do capitalismo… Muita coisa aconteceu e as mudanças foram vistas em todo lugar, inclusive dentro do copo. Hoje a cerveja é muito diferente daquela imaginada pelo duque Guilherme VI, que em 1516, antecipando uma calamidade pública, decretou na Bavieira que cerveja era somente, e tão somente, água, malte e lúpulo.

Acontece que em 2012, pesquisadores brasileiros ganharam o mundo com a publicação de um artigo científico no Journal of Food Composition and Analysis, indicando que as cervejas mais vendidas por aqui, ao invés de malte de cevada, são feitas de milho.

Antarctica, Bohemia, Brahma, Itaipava, Kaiser, Skol e todas aquelas em que consta como ingrediente “cereais não maltados”, não são tão puras como as da Baviera, mas estão de acordo com a legislação brasileira, que permite a substituição de até 45% do malte de cevada por outra fonte de carboidratos mais barata.

Agora pense na quantidade de cerveja que você já tomou e na quantidade de milho que ela continha, principalmente a partir de 16 de maio de 2007.

Foi nessa data que a CNTBio inaugurou a liberação da comercialização do milho transgênico no Brasil. Hoje já temos 18 espécies desses milhos mutantes produzidos por MonsantoSyngentaBasfBayerDow Agrosciences e Dupont, cujo faturamento somado é maior que o PIB de países como Chile, Portugal e Irlanda.

Tudo bem, mas e daí?

E daí que ainda não há estudos que assegurem que esse milho criado em laboratório seja saudável para o consumo humano e para o equilíbrio do meio ambiente. Aliás, no ano passado um grupo de cientistas independentes liderados pelo professor de biologia molecular da Universidade de Caen, Gilles-Éric Séralini, balançou os lobistas dessas multinacionais com o teste do milho transgênico NK603 em ratos: se fossem alimentados com esse milho em um período maior que três meses, tumores cancerígenos horrendos surgiam rapidamente nas pobres cobaias. O pior é que o poder dessas multinacionais é tão grande, que o estudo foi desclassificado pela editora da revista por pressões de um novo diretor editorial, que tinha a Monsanto como seu empregador anterior.

Além disso, há um movimento mundial contra os transgênicos e o Brasil é um de seus maiores alvos. Não é para menos, nós somos o segundo maior produtor de transgênicos do mundo, mais da metade do território brasileiro destinado à agricultura é ocupada por essa controversa tecnologia. Na safra de 2013 do total de milho produzido no país, 89,9% era transgênico. (Todos esses dados são divulgados pelas próprias empresas para mostrar como o seu negócio está crescendo)

Enquanto isso as cervejarias vão “adequando seu produto ao paladar do brasileiro” pedindo para bebermos a cerveja somente quando um desenho impresso na latinha estiver colorido, disfarçando a baixa qualidade que, segundo elas, nós exigimos. O que seria isso se não adaptar o nosso paladar à presença crescente do milho?

Da próxima vez que você tomar uma cervejinha e passar o dia seguinte reinando no banheiro, já tem mais uma justificativa: “foi o milho”.

Dá um frio na barriga, não? Pois então tente questionar a Ambev, quem sabe eles não estão usando os 10,1% de milho não transgênico? O atendimento do SAC pode ser mais atencioso do que a informação do rótulo, que se resume a dizer: “ingredientes: água, cereais não maltados, lúpulo e antioxidante INS 316.”

Vai uma, bem gelada?


*Ana Paula Bortoletto é nutricionista e doutora em nutrição em saúde pública. Flavio Siqueira Júnior é advogado e ativista de direitos humanos.

Murió el guitarrista Paco de Lucía

FONTE D FACTO

Murió el guitarrista Paco de Lucía

Por Dfacto // Mié, 26/02/2014 – 17:21

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El guitarrista Paco de Lucía falleció a los 66 años en Quintana Roo, México, víctima de un infarto mientras jugaba con sus hijos en la playa.

El artista fue Premio Príncipe de Asturias de las Artes y emblema, junto con Camarón de la Isla, de la renovación y difusión mundial del flamenco.

Francisco Sánchez Gómez, su verdadero nombre, había inyectado al flamenco a lo largo de su larga trayectoria ritmos como el jazz, la “bossa nova” e incluso la música clásica.

Discípulo de Niño Ricardo y de Sabicas, y respetado por músicos de jazz, rock o “blues” por su personal estilo, logró, entre otros muchos reconocimientos, un Grammy al mejor álbum flamenco 2004; el Premio Nacional de Guitarra de Arte Flamenco; la Medalla de Oro al Mérito de las Bellas Artes 1992; el Premio Pastora Pavón La Niña de los Peines 2002; y el honorífico de los Premios de la Música 2002.

Fue en Madrid donde surgió la mítica pareja El Camarón-De Lucía, tan virtuosa y purista como renovadora del flamenco y que se tradujo en más de diez discos de estudio, como “El Duende Flamenco” (1972) “Fuente y Caudal” (1973).

A través de un comunicado, la familia señaló que no hay consuelo” ni para los que le conocían, ni para los que le querían sin conocerlo, y que “el dolor ya tiene fecha” para este clan artístico.

“Anoche se nos fue el padre, el hermano, el tío, el amigo y se nos fue el genio Paco de Lucía”, dicen sus allegados, que han querido compartir “un abrazo y una lágrima” con el mundo, bajo su “convicción de que Paco vivió como quiso y murió jugando con sus hijos al lado del mar”.

Há mais do que fúria na Bósnia

FONTE OUTRAS PALAVRAS

http://outraspalavras.net/destaques/zizek-ha-mais-do-que-furia-na-bosnia/

Zizek: Há mais do que fúria na Bósnia

– ON 18/02/2014CATEGORIAS: DESTAQUESMUNDOPOLÍTICAS

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Presidency and Government buildings on fire during protest in Sarajevo

Ao unirem três etnias da ex-Iugoslávia, protestos retomam projeto emancipatória e revelam: é possível enfrentar onda de fundamentalismo que atravessa o planeta

Por Slavoj ZizekGuardian | Tradução: Vila Vudu

Semana passada, cidades queimavam,[1] na Bósnia-Herzegovina. Tudo começou em Tuzla, cidade de maioria muçulmana. Os protestos então se espalharam até a capital, Sarajevo, e Zenica, mas também até Mostar, onde vive largo segmento da população croata, e Banja Luka, capital da parte sérvia da Bósnia. Milhares de manifestantes furiosos ocuparam e incendiaram prédios públicos. Embora a situação já tenha se acalmado, persiste no ar uma atmosfera de alta tensão.

Os eventos fizeram surgir teorias da conspiração (por exemplo, que o governo sérvio teria organizado os protestos para derrubar o governo bósnio), mas é preciso ignorá-las firmemente, porque, haja o que houver por trás das manifestações, o desespero dos manifestantes é autêntico. Fica-se tentado a parafrasear aqui a famosa frase de Mao Tse Tung: há caos na Bósnia, a situação é excelente![2]

Por quê? Porque as exigências dos manifestantes são as mais simples que há – emprego, uma chance de vida decente e o fim da corrupção – mas mobilizaram pessoas na Bósnia, país que, nas últimas décadas, tornou-se sinônimo de feroz limpeza étnica.

Antes disso, os únicos protestos de massa na Bósnia e em outros estados pós-Iugoslávia tinham a ver com paixões étnicas ou religiosas. Em meados de 2013, dois protestos públicos foram organizados na Croácia, país mergulhado em profunda crise econômica, com desemprego alto e profundo sentimento de desespero: os sindicatos uniram-se para organizar uma manifestação em apoio aos direitos dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que nacionalistas de direita[3] iniciavam um movimento de protesto contra o uso do alfabeto cirílico em prédios públicos em cidades de minoria sérvia. A primeira iniciativa levou umas duas centenas de pessoas para uma praça em Zagreb; a segunda mobilizou centenas de milhares, como, antes, acontecera num movimento fundamentalista contra o casamento de homossexuais.[4]

A Croácia está longe de ser exceção: dos Bálcãs à Escandinávia, dos EUA a Israel, da África Central à Índia, está começando uma nova Idade das Trevas, com paixões étnicas e religiosas explodindo, e com os valores das Luzes retrocedendo. Essas paixões sempre arderam por trás de tudo, mas a novidade é que, hoje, aparecem desavergonhadamente expostas.

Assim sendo, o que fazer? Liberais dominantes nos dizem que, quando os valores básicos da democracia são ameaçados por fundamentalistas étnicos ou religiosos, temos todos de nos unir numa agenda liberal-democrática de tolerância cultural, salvar o que possa ser salvo e deixar de lado todos os sonhos de transformação social mais radical. Nossa tarefa, dizem eles, é clara: temos de escolher entre a liberdade liberal e a opressão fundamentalista.

Porém, quando nos fazem, em tom triunfalista, perguntas (exclusivamente retóricas!) como “Você deseja que as mulheres sejam excluídas da vida pública?” ou “Você deseja que todos os que critiquem a religião sejam condenados à morte?”, o que mais nos deve fazer desconfiar da pergunta é a obviedade da resposta.

O problema aí é que esse universalismo liberal simplório já perdeu a inocência, há muito tempo. O conflito entre a permissividade liberal e o fundamentalismo é, na verdade, um falso conflito – um círculo vicioso e viciado no qual os dois polos pressupõem-se e geram-se mutuamente, um o outro.

O que Max Horkheimer[5] disse sobre o fascismo e o capitalismo lá nos anos 1930s (que os que não querem falar criticamente sobre o capitalismo devem também calar sobre o fascismo) pode aplicar-se ao fundamentalismo de hoje: os que não querem falar criticamente sobre a democracia liberal devem também calar a boca sobre o fundamentalismo religioso.

Reagindo contra caracterizar-se o marxismo como “o Islã do século 20”, Jean-Pierre Taguieff escreveu que o Islã está em vias de mostrar-se como o “marxismo do século 20” para prolongar o violento anticapitalismo do comunismo, depois do declínio do comunismo.

Mas as recentes vicissitudes do fundamentalismo muçulmano confirmam, pode-se dizer, o antigo insight de Walter Benjamin, de que “cada ressurgimento do fascismo dá testemunho de uma revolução fracassada”. O crescimento do fascismo é, em outras palavras, o fracasso da esquerda e, simultaneamente, prova de que subsiste um potencial revolucionário, uma insatisfação, que a esquerda não é capaz de mobilizar. E não se pode dizer exatamente a mesma coisa do hoje chamado “islamo-fascismo”? O surgimento do islamismo radical não é perfeito correlato do desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos?

Quando o Afeganistão é apresentado como país fundamentalista islamista “típico”, quem ainda lembra que, há 40 anos, foi o país de mais forte tradição secular, incluindo um poderoso Partido Comunista que chegou ao poder no Afeganistão, independente da União Soviética?

Esse é o contexto no qual se tem de compreender os recentes eventos na Bósnia. Numa das fotos dos protestos, veem-se os manifestantes exibindo três bandeiras lado a lado: da Bósnia, da Sérvia e da Croácia, mostrando o desejo de ignorar todas as diferenças étnicas. Para resumir, temos aqui uma rebelião contra elites nacionalistas: o povo da Bósnia afinal compreendeu quem é o seu verdadeiro inimigo: não outros grupos étnicos, mas os seus próprios “representantes” políticos que fingem protegê-los contra os demais. É como se o velho e tantas vezes mal usado lema titoísta[6] da “fraternidade e unidade” das nações iugoslavas ganhasse nova atualidade.

Um dos alvos dos manifestantes era o governo da União Europeia que supervisiona o estado bósnio, forçando a paz entre as três nações e oferecendo considerável ajuda financeira para ajudar no funcionamento do Estado. Pode parecer estranho, porque os objetivos dos manifestantes são, nominalmente, os mesmos objetivos de Bruxelas: prosperidade e o fim das tensões étnicas e da corrupção.

Contudo, o modo como a União Europeia realmente governa a Bósnia cria divisões: a União Europeia só vê, como suas parceiras privilegiadas, as elites nacionalistas, entre as quais faz uma mediação.

O que as explosões na Bósnia confirmam é que ninguém jamais conseguirá superar paixões étnicas impondo a elas uma agenda liberal: o que uniu os manifestantes foi uma mesma radical exigência de justiça.

O passo seguinte e mais difícil será organizar os protestos num novo movimento social que ignore as divisões étnicas; e organizar novos protestos – já imaginaram uma cena, com bósnios e sérvios furiosos, reunidos num comício conjunto, em Sarajevo?

Ainda que os protestos percam gradualmente a força, ainda assim permanecerão como uma fagulha de esperança, como soldados inimigos que se abraçavam nas trincheiras, na primeira guerra mundial. Eventos autenticamente emancipatórios sempre incluem ignorar identidades.

E vale o mesmo para a recente visita de duas representantes do movimento Pussy Riot a New York: num grande show de gala foram apresentadas por Madonna, na presença de Bob Geldof, Richard Gere, etc., toda a gangue dos direitos humanos de sempre. Deveriam ali, isso sim, manifestar solidariedade a Snowden, para mostrar que o Pussy Riot e Snowden são parte do mesmo movimento global. Sem esses gestos que aproximem o que, na nossa experiência ideológica diária, parecem ser coisas incompatíveis (muçulmanos, sérvios e croatas na Bósnia; secularistas turcos e muçulmanos anticapitalistas na Turquia, etc.), os movimentos de protesto sempre serão manipulados por alguma superpotência, em sua luta contra outra.

Slavoj Žižek

Slavoj Žižek é um filósofo e teórico crítico esloveno. É professor da European Graduate School e pesquisador sênior no Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana. É também professor visitante em várias universidades norte-americanas, entre as quais a Universidade de Columbia, Princeton, a New School for Social Research, de Nova Iorque, e a Universidade de Michigan. Veja seus livros em nossa loja virtual.

É na canção popular brasileira que melhor se vê a libido da língua portuguesa

FONTE: PUBLICO PORTUGALhttp://www.publico.pt/cultura/noticia/e-na-cancao-popular-brasileira-que-melhor-se-ve-a-libido-da-lingua-portuguesa-1621591

É na canção popular brasileira que melhor se vê a líbido da língua portuguesa

30/01/2014 – 08:30

Será o português uma língua boa para a criação? Colóquio na Fundação Gulbenkian juntou durante dois dias escritores, músicos, actores, encenadores, teóricos e programadores para responder a esta e outras perguntas.

Chico Buarque foi um dos compositores mais evocados durante o colóquio sempre que se falou de música e palavra PAULO PIMENTA

O que pode uma língua? Para uns tudo, para outros nada (pelo meio fica Nuno Artur Silva, fundador da agência Produções Fictícias, a garantir que “haveria tanto a dizer sobre o assunto e os seus múltiplos sentidos…”). No colóquio de segunda e terça-feira, em Lisboa, a Fundação Calouste Gulbenkian juntou profissionais de várias áreas, da música à literatura, passando pelo teatro, a dança e o cinema, sem esquecer os programadores, para debater as potencialidades criativas da língua portuguesa. O que é que só se pode dizer em português? Esta é uma língua estranha para quem compõe? Que dificuldades enfrenta quem a traduz? E como explicar a um americano que uma palavra pode ter muitos sentidos lá dentro?

Para quem trabalha a língua portuguesa, seja para escrever livros ou canções, ela é sobretudo um referente cultural, uma ferramenta de trabalho ou, como defende o escritor Mário de Carvalho, um reservatório de memória e tradição, como a própria literatura. “A memória também está nas palavras porque elas transportam uma história, carregam o grego e o árabe”, explicou no painel dedicado à criação literária, em que estiveram também o tradutor americano Richard Zenith, Nuno Artur Silva ou o cabo-verdiano Germano de Almeida.

Foram precisamente estes dois últimos que extremaram posições a partir do tema do colóquio, directamente saído da canção Língua, de Caetano Veloso (“O que pode uma língua?”). O primeiro, ligado sobretudo ao audiovisual, defendeu que o português nada pode se sobre ele não formos capazes de construir mitos: “A língua [portuguesa] é o território, não é a pátria. Essa está nos mitos, no imaginário, nas pessoas que se emocionam com o mesmo que nós.” Sem esse “imaginário” será um instrumento pouco útil, mesmo que seja a mais falada do hemisfério sul. Já o autor de O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo e de As memórias de um espírito encontra na língua portuguesa uma “fonte de riqueza” que nas suas ilhas se mistura com o crioulo. “Na minha casa o meu pai falava em português e minha mãe em crioulo. Eu nasci bilingue e quando cresci fiquei abismado ao descobrir que havia cabo-verdianos que não [o] eram”, explicou, dizendo que escreve em português sobre uma realidade e uma cultura que é a de Cabo Verde – a sua.

Para Germano de Almeida, conferencista transformado em contador de histórias para explicar que a língua portuguesa lhe é tão importante que chegou a acabar um namoro porque alguém lhe escreveu num papel “penço em ti” – “como poderia eu continuara a namorar uma mulher que escrevia ‘penso’ com ç?” -, o português é uma “ponte entre culturas”. Admitindo que o usa para escrever porque lhe é natural fazê-lo e lhe permite chegar a uma audiência mais vasta, mesmo quando isso lhe vale muitas críticas no seu país, o autor continua a defender o crioulo como “língua de intimidade”, feita para “trazer no dia-a-dia”: “O cabo-verdiano namora em crioulo. Não passa pela cabeça de um cabo-verdiano dizer ‘amo-te’ a uma mulher. ‘Amo-te’ é uma palavra violenta…”

Riqueza de sentidos
Palavras “violentas”, “formais”, uma “maneira de falar que fecha as vogais” e torna mais presentes as consoantes que, para um estrangeiro, são difíceis de dizer. Uma língua que resulta de “uma longa decantação”: “O português de Portugal pode ser uma língua dura, difícil. O do Brasil amacia-o, como o africano. Muda-lhe os ritmos e as entoações, junta-o às línguas indígenas para criar uma espécie de irradiação atlântica”, diz ao PÚBLICO José Miguel Wisnik, autor, compositor e professor de Literatura da Universidade de São Paulo, convidado do painel moderado pelo musicólogo Rui Vieira Nery.

“O português que se fala aqui é mais gutural, cria uma série de percussões surdas. O do Brasil estabiliza as vogais, o que deixa que as sílabas durem – é como uma orquestra em que se ouvem as cordas e os sopros”, explica o músico que também compõe para cinema, teatro e dança. “Mas todas as línguas inventam um modo de dizer.”

No caso do português, a ligação à música, seja ela erudita ou popular, faz parte da história da própria língua, lembra Wisnik, referindo-se às cantigas de amor e de amigo medievais. E se é verdade que há géneros musicais em que se torna mais difícil usá-la – “na tradição do bel canto a técnica foi optimizada para o italiano” -, outros há em que ela é tão natural como respirar, até pela sua “riqueza de significações”.

Para Alexandre Delgado, músico e compositor, autor das óperas O Doido e a Morte A Rainha Louca, para além da riqueza de sentidos há a considerar como enormes vantagens da língua portuguesa uma “rítmica natural altamente irregular” e uma “fonética variadíssima”, que torna fácil ao português falar outros idiomas porque conhece uma grande panóplia de sons e consegue imitá-los.

Quando compõe ou traduz libretos para português, Delgado diz ter sempre a preocupação de que as palavras sejam claras – “há contextos em que, se se deixa de perceber a linguagem, a música não faz sentido” – o que não se passa com muitos outros autores. Luís Tinoco, que também está habituado a compor para palco, é um deles. “Aceito que seja legítimo destruir as características da própria língua para fazer música, que se sacrifique a compreensão. Tão legítimo como fazer música para que se perceba cada palavra”, diz, reconhecendo que há línguas mais propícias a determinado tipo de música. “Não é por acaso que não há jazz em chinês e que uma música marcial casa muito bem com o alemão”, exemplifica o autor da ópera Paint Me (2010) e de partituras para textos de poetas e escritores como Álvaro de Campos (From the Depth of Distance) e Camilo Pessanha (Três Poemas do Oriente).

Para Tinoco, todo o compositor de música erudita é um optimista que procura um som – “qualquer som é musicável” – e um texto pode garantir, mais do que as palavras certas, uma atmosfera propícia ao nascimento de uma ideia: “Quando pego num texto estou preocupado com a forma como ele estimula a minha imaginação musical e não com o som das palavras escritas.” É por isso que defende que, por vezes, para trabalhar há que abdicar de aspectos estritos da cultura portuguesa. “A minha pátria língua está seguramente naquilo que é a herança que nos deixam os nossos escritores – a relação afectiva que consigo estabelecer com eles é irrepetível com autores estrangeiros.”

Uma canção livre
Na canção popular, e devido, talvez, à presença de Wisnik, o debate da Gulbenkian andou muito à volta das diferenças entre trabalhar o português do Brasil e o de Portugal e sobre a resposta à pergunta: “O que é que nasce primeiro – a letra ou a melodia?”

Tiago Torres da Silva, Pedro Silva Martins e Ângelo César (Boss AC) representaram os letristas e compositores portugueses, para quem a palavra pode funcionar como um gatilho ou ser o que mais pesa numa canção.

Silva Martins, compositor dos Deolinda, mas também de temas para os fadistas Ana Moura, Cristina Branco e António Zambujo, diz que procurar palavras para colocar nos intervalos que a música deixa é a parte “mais intensiva” do ofício de criar canções. É dele a expressão “palavra-gatilho” – a que faz despoletar toda a letra – e a ideia de que a melodia nasce primeiro porque “ela já traz uma história”: “Eu acredito que existe uma língua musical portuguesa que não precisa de palavras.”

Boss AC é um adepto da palavra. Embora já tenha composto para fado, o músico a quem se devem discos como Preto no Branco e Rimar contra a Maré, tem-se dedicado sobretudo ao rap e ao hip-hop, géneros em que “o português de Portugal é um desafio”. “O português de Angola também é muito mais musical que o daqui”, sublinha o compositor de origem cabo-verdiana. Boss AC começou por escrever em inglês, imitando os intérpretes que ouvia quando era ainda adolescente, mas rapidamente optou pela sua língua: “A música só faz sentido se percebermos tudo o que está a ser dito.”

Tal como o compositor dos Deolinda, Tiago Torres da Silva gosta de sublinhar a importância da palavra, sobretudo quando se trata de fado tradicional, género em que “é mais importante ouvir a voz do que a melodia”, mas dá prioridade à música. Escritor, encenador e letrista, diz que as palavras das canções ainda são vistas como “poesia menor” e que compõe com um pé em Alfama e outro em Ipanema. Quem olha para o seu percurso não tem qualquer dificuldade em acreditar nesta ponte atlântica que o faz falar de Chico Buarque e João Gilberto com a mesma intensidade com que cita Amália, o que leva Rui Vieira Nery a chamar-lhe o “Pedro Álvares Cabral da canção”, com David Mourão-Ferreira e Vinicius de Moraes no ADN.

Tiago Torres da Silva já escreveu para Teresa Salgueiro, Carminho, Maria João, Ricardo Ribeiro, Tereza Tarouca e Carlos do Carmo, mas também para Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Maria Bethânia, Daniela Mercury e Tito Paris. A língua portuguesa interessa-lhe, venha ela de onde vier, só é preciso levar em conta que “cada tipo de música tem um dialecto próprio”: “Há palavras que o fado não admite.”

A generalidade dos compositores brasileiros, explica o letrista, fazem a música primeiro, os portugueses querem musicar a letra. “A canção brasileira é, por isso, muito mais livre”. Seja como for, “escrever canções populares aprende-se na rua, nas casas de fado de Lisboa que não são para turistas ou nos botecos da Lapa do Rio de Janeiro”. Wisnik concorda. É na rua que a língua se usa sem constrangimentos, explorando os múltiplos significados em que o português é rico. Além disso, a música popular brasileira – a de Chico Buarque, “esse grande escritor de livros e de canções”, Caetano Veloso, João Gilberto, Noel Rosa, António Cícero e muitos outros – está “profundamente ligada à fala”. João Gilberto é a “figura-mestre” desta canção como lugar da palavra oral, em que a entoação é música.

Há canções, garante Wisnik, em a palavra recebe uma injecção de regularidade da música – e começa a entoar Garota de Ipanema, tema eterno de Vinicius e Tom Jobim, para exemplificar -; há outras em que se passa o contrário (desta vez evoca um samba de Noel Rosa que é “como uma conversa de botequim”). “Na ‘passionalizante’, diferente das outras duas, as sílabas estendem-se para explorar a música, do grave ao agudo” – e começa a cantar baixinho “Eu sei que vou te amar/Por toda a minha vida eu vou te amar”… Temas que fizeram da música brasileira um veículo único da transmissão do português pelo mundo, sublinha este professor que deu aulas de literatura nos Estados Unidos, onde muitos dos alunos que se inscreviam nas suas cadeiras o faziam para aprender a cantar.

“Há poesia que tem desejo de canção e outra que não. Num tema comoLíngua, de Caetano, se vê muito bem essa aproximação entre a canção e a oralidade; se vê muito bem a libido da língua portuguesa, uma língua que tem algo de carnal, que está ligada ao prazer, ao que comemos e ao gosto das palavras.” Talvez por isso Caetano cante “Gosto de sentir a minha língua roçar/ A língua de Luís de Camões”.

O jogo do gás natural entre Europa e Rússia

FONTE: BLOG INFOPETRO

http://infopetro.wordpress.com/2012/03/19/observatorio-de-geopolitica-da-energia-ii-o-jogo-do-gas-natural-entre-europa-e-russia/

Observatório de geopolítica da energia II: o jogo do gás natural entre Europa e Rússia

In gás natural on 19/03/2012 at 00:15

Por Renato Queiroz e Felipe Imperiano

O acesso  a recursos que revertam em  segurança energética  constitui-se em tema relevante nas pautas de política externa dos países. A concentração espacial de recursos naturais estratégicos para o desenvolvimento das nações e garantidores do nível de bem-estar de seus cidadãos tem consequências profundas no delineamento das políticas energéticas das nações. O uso de ativos energéticos como ferramenta de defesa de interesses políticos e econômicos não é algo novo no cenário internacional.

Um bom exemplo que se tornou emblemático para os estudiosos em geopolítica energética é a situação de dependência da Europa em relação ao  gás russo e, em contrapartida, como o gás natural é estratégico para o desenvolvimento econômico da Rússia. O Estado russo sempre se valeu de suas enormes reservas de óleo e gás. O país tem a sétima maior reserva de petróleo do mundo e a maior reserva de gás natural, isto é, 24% do total.  Em 2010 a Rússia foi ao mesmo tempo maior produtor de gás natural, alcançando a cifra de 637 bcm (bilhões de metros cúbicos), isto é, 19,4% do total produzido mundialmente, sendo ao mesmo tempo o número um em exportações (IEA, 2011).

A  Europa, ávida por energia, traçou planos para o suprimento ao seu mercado através de fontes longínquas de suas fronteiras. Os russos se mobilizaram e vieram construindo de forma gradual e persistente seus oleodutos e gasodutos em direção à Europa. A Rússia tem um planejamento nacional estratégico expansionista, baseado em  exportação de energia sendo, inclusive, o único exportador líquido de energia dos BRIC´s. O principal mercado para o gás russo é a Europa.

Como o crescimento do consumo de gás no continente europeu deve permanecer por longo período, essa dependência energética da Rússia deve ter vida longa segundo muitos analistas. A fatia da estatal russa Gazprom  no mercado europeu ultrapassa 50%.  Agravando essa dependência, surge a insegurança que ronda as decisões sobre o uso de plantas de geração de energia nuclear na Europa, o que coloca o gás natural como uma forte opção para atender a uma oferta perdida. Em adição, a crise econômica iniciada em 2011 deflagrou um processo de austeridade fiscal, o qual traz consequências importantes sobre a capacidade de financiamento de fontes alternativas de energia,  aumentando ainda mais a dependência da matriz europeia  ao  gás natural.  Logo, essa questão ganha contornos mais complexos no continente europeu, posto que o seu número de fornecedores é bastante reduzido.

Os russos sempre utilizaram as mais diversas estratégias para manterem seus negócios energéticos com a Europa. O subsídio da energia para os estados membros da antiga URSS já era uma prática comum antes mesmo da ascensão ao poder de Vladmir Putin na Rússia, por exemplo. Ainda hoje esse artifício é bastante usado pelo Kremlin. Nas recentes disputas pelo preço do gás com os países do leste europeu, foi oferecido o perdão da dívida em troca do monopólio da rede de dutos que passam por aqueles países para levar gás russo até o oeste europeu e assim aumentar o controle da Gazprom sobre o transporte do suprimento energético para a Europa.

Por um lado, se a Europa é bem dependente da energia proveniente da Rússia, por outro ela exerce importante papel na economia russa. A União Europeia não só é o principal parceiro comercial, como também a maior fonte de investimento direto estrangeiro (IDE) no país. Em 2008 o IDE da UE na Rússia atingiu US$ 43 bilhões, sofrendo uma substancial queda após a crise financeira mundial, porém se recuperando rapidamente e chegando ao patamar de US$ 34 bi já em 2010. Mas há gargalos de infraestrutura e de atraso tecnológico na Rússia.  O país necessita de fortes investimentos nessas áreas e de transferência  de  know-how ocidental, vital para que o seu setor energético não enfrente uma queda na produção, o que poderia afetar drasticamente o orçamento do Estado. Assim, o fluxo de recursos financeiros provenientes das vendas de gás para a Europa é vital.

Além disso, o preço pago pelo gás russo teve consideráveis elevações nos últimos anos,  aproximando-o do Gás Natural Liquefeito-GNL, o que fez com que este se tornasse mais competitivo. O gráfico abaixo apresenta a evolução dos preços do gás natural nos mercados, incluindo o do gás natural no Henry Hub.

Tal competitividade levou a Rússia a monitorar atentamente o mercado de GNL, desenvolvendo estratégias que impeçam que esse gás concorrente aumente a sua  participação no mercado energético europeu.  Como exemplo, em novembro de 2011, em Doha, no Qatar, na  1ª Cúpula de Países Exportadores de Gás Natural [1], os russos, representados pelo seu presidente Dmitri Medvedev, estiveram nessa cimeira com uma posição de defender seu mercado de gás. Afinal a expansão das plantas de GNL é uma forte ameaça para a manutenção do marketshare russo, podendo levar a uma perda de receita significativa.  A Rússia, assim, negociou com o Qatar, em troca de não aumentar o  fornecimento de GNL à Europa, o direito de investir no projeto Yamal que vai produzir gás natural liquefeito na península de mesmo nome  na Sibéria, uma espécie de embargo do GNL ao velho continente.

A Europa, no entanto, busca soluções de novas fontes de fornecimento de gás fora da Rússia. A região do Cáucaso e da Ásia Central se tornou a nova fronteira energética, sendo alvo de disputa por diversas potências. O Turcomenistão tem a quarta maior reserva de gás do mundo, o Cazaquistão a nona maior de petróleo. O Azerbaijão tem  reservas de gás comprovadas que totalizam cerca de 2,6 trilhões de metros cúbicos.  As perspectivas de  produção de gás no Azerbaijão em 2017 atingirão 30 bilhões de metros cúbicos,  e em 2025 – 50 bilhões. A Europa tem no “Corredor do Sul”, como é chamado o conjunto de projetos que pretendem ligar a região ao continente europeu, a sua principal alternativa para reverter o quadro delicado em que se encontra no campo energético.

O gasoduto Nabucco, por exemplo, é o projeto mais ambicioso e mais caro de todos. A base prevista de recursos são as reservas no Azerbaijão e Turcomenistão.  Esse  gasoduto transportaria gás da Ásia Central à Europa de forma a reduzir a dependência da energia russa. Há dificuldades ainda para a concretização do projeto. O gasoduto de grande extensão necessita de cerca de 14 bilhões de euros para o seu financiamento e  tem ainda um traçado que exige difíceis acomodações políticas. Essa indefinição faz com que os russos mantenham a determinação de influenciar o mercado europeu de energia.

Historicamente a região do Cáucaso e Ásia Central esteve sobre a égide russa. Logo, Moscou lança mão de todas as táticas para  manter a área dentro de seu controle político,  buscando inclusive estabelecer ações, para que  os fluxos de energia para a Europa sigam pela sua rede de transporte. Uma das manobras russas é enfraquecer o poder dos ucranianos que tem um histórico de colocar empecilhos técnicos e comerciais,  para que o gás russo, que passa pela Ucrânia, chegue à Europa. A Rússia, assim, buscou acabar com a sua dependência em relação ao gasoduto da Ucrânia. O projeto russo-alemão Nord Stream,  inaugurado em 2011, dá condições à Rússia de enviar gás natural diretamente para a Europa através de gasodutos submarinos construídos no Mar Báltico. Outra estratégia dos russos seria a construção do projeto South Stream nas águas territoriais turcas no Mar Negro. A Turquia já autorizou que os russos passassem o duto por suas águas territoriais. Esse projeto, se consolidado, permitirá que a Rússia atinja o sudeste europeu, podendo inviabilizar o projeto Nabucco.

Verifica-se que os russos estão acelerando suas ações para manter a condição de fornecedor principal de gás à Europa, afinal, além do GNL, um novo e forte concorrente bate à porta, querendo  entrar no jogo: o shale gás, ou seja, o gás recuperável nas rochas de xisto. Vale ressaltar que a Polônia, que se organiza para explorar  suas reservas de gás de xisto que beiram 5,0 trilhões de metros cúbicos,  pode reduzir a dependência de Moscou sobre a Europa.

O jogo do gás natural entre Europa e Rússia trará, no médio prazo, novas configurações. O aumento da oferta do gás natural seja convencional, shale gás, ou GNL mexerá no tabuleiro energético não somente da Ásia e Europa, mas também no âmbito mundial. Um dado curioso é comparar as reservas provadas de gás convencional que somam 6.608 trilhões de pés cúbicos-TCF( trillion cubic feet) ou seja,  cerca de 187 trilhões de metros cúbicos, segundo a BP,  e o volume de shale gas recuperável,  conforme estudo da EIA de 2011, que soma o mesmo nível do convencional, 6.620 TCF ou 187,4 trilhões de metros cúbicos.

Em suma a maior oferta de gás trará um alinhamento dos mercados. Esse cenário de gás abundante no horizonte de 20 a 40 anos (2030 a 2050) influenciará, certamente, os preços dos combustíveis fósseis e pode, inclusive, respingar no mercado das energias renováveis.


[1] A 1ª Cúpula de Países Exportadores de Gás Natural reuniu  Rússia, Argélia, Bolívia, Venezuela, Egito, Irã, Qatar, Líbia, Nigéria, Guiné Equatorial e Trinidad e Tobago. Estavam presentes como observadores a Holanda, a Noruega e o Cazaquistão. Esses 14 países controlam 70% das reservas mundiais de gás e mais de 80% da produção do gás natural liquefeito-GNL

Referencias Bibliográficas

BP Statistical Review of World Energy, 2011

IEA World Energy Outlook, 2011

EIA-DOE World  Shale Gas Resources: An Initial Assessment of 14 Regions Outside

Leia outros textos de Renato Queiroz no Blog Infopetro

Leia outros textos de Felipe Imperiano no Blog Infopetro

As liberdades vigiadas da Ucrânia e da Crimeia

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O mapa e gráfico acima mostram a dependência dos países europeus (mas não só eles) do gás natural produzido na Rússia, e comercializado pela Gazprom. Note-se que tanto a Crimeia quanto a Ucrânia são pontos importantes em tal distribuição, pois é distribuidora através dos gasodutos que passam no território da Ucrânia e da República Autônoma da Crimeia.

Notemos que tanto a Ucrânia, quanto a Crimeia são pontos que igualmente participam de tal distribuição, mas, além disso a Crimeia é uma República Autônoma da Ucrânia. Na verdade a Crimeia era integrante da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), tendo sido transferida por Nikita Krushov para a Ucrânia em 1954 em razão da comemoração do 300º aniversário de unificação da Ucrânia e da URSS. Com a debàcle desta última, , a Crimeia declarou sua independência em 5 de maio de 1992 e mais tarde concordou em se tornar integrante da Ucrânia na condição de República Autônoma.No entanto a maioria da população é russa e não concordou com a situação proposta. Podemos dizer que esse é um pólo de permanente tensão entre a Ucrânia e Crimeia.

Além do que, no Mar Negro há uma forte base naval soviética, que atua quando há conflitos armados na região.

Por outro lado, a Ucrânia está praticamente dividida entre sua população de origem russa e de origem ucraniana, além de outras minorias. Também aqui há uma situação bastante tensa. Em outros termos, um barril de pólvora, cujo rastilho não é muito curto. Assim se tem uma ideia dos conflitos na Ucrânia, quando uma parte de sua população prefere fazer parte da Comunidade Européia e outra pretende manter-se sob a influência soviética.

Quanto à economia, a Ucrânia é a sétima produtora de aço do mundo.

Não se pode dizer, em meu entender, que especialmente a Crimeia não faça parte da Rússia. No entanto, par Putin, o que houve na Ucrânia foi um golpe de estado. Do ponto de vista de retaliação, seja dos mercados, seja de sanções econômicas, os dois lados perdem. Falar em intervenção militar é uma bobagem inominável por parte dos Estados Unidos e da OTAN.

Aposto que o único caminho possível é o diplomático, pois sanções econômicas podem levar simplesmente ao fechamento das torneiras que abastecem de gás natural a Comunidade Européia. Alguém vai ter muito prejuízo, mas, sem dúvida, ele será compartilhado de modo brutal entre possíveis vencedores e perdedores, se é que se pode usar essa terminologia no caso.

Enquanto a retórica diplomática e as ameaças econômicas buscarem resolver o assunto, além, é claro, dos mísseis, dos tanques, dos exércitos soviéticos, sabemos já que perdedor mesmo só haverá um: o povo. Famílias destruídas, velórios, assassinatos, de encomenda ou não e uma destruição absurda. Esses sim, como sempre, os verdadeiros perdedores. HILTON BESNOS.

 

La angústia de Casapueblo sin Carlos Páez Vilaró

G1 GLOBO NOTÍCIAS

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2014/02/morre-o-artista-plastico-uruguaio-carlos-paez-vilaro.html

24/02/2014 10h59 – Atualizado em 24/02/2014 15h52

Morre o artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró

Ele morreu aos 90 anos, em sua Casapueblo, de problemas no coração.
Pintor e escultor será velado em Montevidéu e enterrado na terça-feira.

O artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró em Casapueblo, sua residência em Punta Ballena, em outubro de 2002 (Foto: AFP PHOTO/PANTA ASTIAZARÁN)

O artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró em Casapueblo, sua residência em Punta Ballena, em outubro de 2002 (Foto: AFP PHOTO/PANTA ASTIAZARÁN)

O artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró morreu nesta segunda-feira (24) aos 90 anos em sua casa de Punta Ballena, próximo ao balneário de Punta del Este, segundo sua secretária María Dezuliari informou à agência Efe. Ele era internacionalmente reconhecido por seus murais e pela incessante busca por seu filho desaparecido em um acidente aéreo na cordilheira dos Andes em 1972.

O pintor e escultor, que já havia operado várias vezes o coração, morreu em Casapueblo, edifício que construiu ao longo de décadas na confluência do Rio da Prata e do Oceano Atlântico e que tornou-se uma das principais atrações turísticas do país.

“Ele sofria de insuficiência cardíaca grave, seu coração estava muito ruim, tinha as átrios dilatados e lutou até o fim”, disse Dezuliari.

O corpo de Páez Vilaró será transferido nesta segunda a Montevidéu, onde será velado na Associação Geral de Autores do Uruguai, e será enterrado nesta terça-feira (25) em um local ainda a ser definido, de acordo com a Efe.

Influência africana
Ao longo da carreira, Vilaró dedicou-se sobretudo à representação da natureza e da comunidade afrodescendente sul-americana, depois de ter vivido vários anos na África.

O artista também é lembrado pela busca por seu filho após um acidente aéreo sofrido pela equipe de rugby do colégio Old Christians, no começo dos anos 1970, enquanto atravessavam a cordilheira dos Andes em direção ao Chile.

Após 72 dias perdidos nas montanhas, apenas 16 jovens dos 45 passageiros sobreviveram, entre eles seu filho.

Vilaró nasceu na capital uruguaia, Montevidéu, no dia 1º de novembro de 1923 e morreu em casa, também seu museu e ateliê, construída por ele mesmo em Punta Ballena e chamada Casapueblo, perto de Punta del Este.

Ele passou a juventude em Buenos Aires, onde foi aprendiz de tipógrafo, sua primeira experiência nas artes gráficas.

Mas na década de 1940 retornou a seu país e se dedicou à representação de tradições uruguaias, como o candombe e as comparsas, e dos escravos africanos no Uruguai.

Vilaró recebeu reconhecimento internacional por meio de várias premiações e um de seus principais murais, “Raíces de la Paz” (Raízes da Paz), considerada a maior pintura subterrânea do mundo, encontra-se na sede da Organização dos Estados Americanos em Washington.

Entre as suas obras, estão grandes pinturas encontradas em hospitais no Chile e Argentina, assim como nos aeroportos do Panamá e Haiti.

A Casapueblo em 2009 (Foto: Miguel Rojo/AFP)

A Casapueblo em 2009 (Foto: Miguel Rojo/AFP)

Foto de 15 de novembro de 2006 mostra visão parcial da Casapueblo, em Punta Ballena, no Uruguai, onde vivia o artista Carlos Paez Vilaró (Foto: Matilde Campodonico/AP)

 Foto de 15 de novembro de 2006 mostra visão parcial da Casapueblo, em Punta Ballena, no Uruguai, onde vivia o artista Carlos Paez Vilaró (Foto: Matilde Campodonico/AP)

O artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró recebe homenagem de Hyara Rodriguez, prefeita de Montevidéu, em abril de 2010 (Foto: AFP PHOTO/Pablo PORCIUNCULA )

 O artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró recebe homenagem de Hyara Rodriguez, prefeita de Montevidéu, em abril de 2010 (Foto: AFP PHOTO/Pablo PORCIUNCULA )
O artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró participa de carnaval em Montevidéu em fevereiro de 2011 (Foto: AFP PHOTO/Pablo PORCIUNCULA)
O artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró participa de carnaval em Montevidéu em fevereiro de 2011 (Foto: AFP PHOTO/Pablo PORCIUNCULA)

Os desejos são as fantasias

A infinidade dos desejos supera em muito as necessidades. Os desejos são as fantasias, enquanto as necessidades são o real. O melhor é que um não engolfe o outro, de modo a continuarmos sonhando com nossa pulsão de libido nos tensionando ao mesmo tempo em que as realidades são continuamente formatadas pelo nosso superego. Matar o desejo é ceder a Tânatos, é nos paralisarmos/ engessarmos dentro do palco social em que estamos mergulhados.

Nosso desejo de sermos deuses não deve impor que sejamos Ícaros, assim como o real não nos deve constranger a sermos Sísifos. Dentro dessa mediação, na qual nossos sentimentos e experiências compõe a maior parte do que somos, acabamos assumindo nossas facetas, nosso destino, nossa predestinação. A questão é que esse nosso destino e essa predestinação, que para a maioria é simplesmente um dado empírico, tem profundas implicações sociais. Somos todos um produto social, o que não mata nossa vontade nem deixa de nos impulsionar à frente em nossos objetivos, sejam elevados ou torpes. Libido. De um lado, se não podemos prever os acontecimentos em nossa vida, por outro temos opções, temos escolhas. Mas essas são decorrentes de imprintings culturais, portanto são socialmente mediadas.

Fossemos usar parâmetros cartesianos, diríamos que em contraponto ao desejo se encontra o racionalismo, derivado do iluminismo europeu do século XVIII e XVIII. Contudo, tal não é tão simples de reduções precárias, conforme vem nos demonstrando questões de descontinuidade e de fortes interações que hoje temos bem mais condições de entender, porque as vivemos. Conexões ocultas, de Fritjof Capra, nos alerta sobre tais interações. Ocorre que essencialmente não há nada no desejo ou na racionalidade que seja ruim ou destruidor, assim como não existe demérito na ambição ou em qualquer dos pecados judaico-cristãos tão severamente aprendidos e, ao mesmo tempo, tão relegados no cotidiano da vida, desde que haja temperança; mesmo a violência é uma decorrência da condição humana e como tal deve ser vista, e não inutilmente exorcizada. O humano não pode conviver sem as grandiosidades e as misérias de sua própria condição.

Somos portanto instáveis, e mais ainda a partir do momento em que não temos condições de entendermos nossos desejos e nossas necessidades. Com o decorrer do tempo passamos a ser pessoas mergulhadas no mundo do espetáculo e do consumo; assim, somos sexuais, ao invés de sensuais;  agressivas ao invés de solidárias, recebendo verdades pasteurizadas e edulcoradas ao invés de sermos reflexivos e críticos.

A vida passa a ser um show, e temos de ter nosso minuto de fama, conforme disse Warholl. De certo modo, nossa humanidade e nossos sentimentos se tornaram um casulo. Talvez por isso sejamos tão sensoriais e tenhamos desenvolvido de maneira notável nosso pensamento mágico, como dizia Freire. Somos seres continuamente em construção, mas é exatamente isso que o mundo do consumo não quer. Melhor, para ele, é que nos tornemos cada vez mais acríticos e cartesianos. Conhecer para dominar é uma estratégia bastante utilizada. Somos mapeados, e se há alguma porta de saída não é a do aeroporto.

Embora tenhamos esquecido, talvez tenhamos de acessar nossa humanidade, que se encontra em stand by, e nossa capacidade de pensar, de (re) fletirmos sobre nós mesmos e sobre os outros. Talvez devamos nos dedicar a matutar, a recebermos com senso crítico o que nos chega, buscando misturarmos racionalidade e sentimentos em humanidades. Afinal, se não somos Medéia, que não sejamos apenas um dado tecnológico, um consumidor customizado.