Em outubro de 2007 resolvemos mudar para um novo endereço. Começamos a buscar opções, mas ou não encontramos o que queríamos ou o que queríamos não nos encontrou. No início de dezembro pensamos em fazer algumas pequenas reformas em nosso apartamento para depois podermos escolher com calma entre a mudança ou a permanência. Contratamos um profissional que nos garantiu que, duas semanas antes do natal, tudo estaria pronto. Prazos não cumpridos,os serviços começaram com duas semanas de atraso, passamos o dia/noite/madrugada do natal trabalhando que nem uns escravos.
Além do que, errou no pedido de argamassa, e como conseqüência, temos pelo menos uns cem quilos de argamassa encalhados. Quando o malfadado transporte terceirizado veio entregar , deixou toda a argamassa praticamente no meio da calçada; pegaram trinta reais do serviço e se foram, sem dó nem piedade. Então eu e a Ana carregamos vinte sacos de argamassa por quase cinquenta metros, cada um deles pesando vinte e cinco quilos. Uma experiência inesquecível, para um sábado de manhã com um sol absolutamente enlouquecido.
Ainda na véspera do Natal tivemos que conseguir um caibro de 5 x 5 polegadas, com 2m e meio para sustentar uma determinada estrutura. Na compra do caibro fomos atendidos por um ser brotado do inferno, que nos tratou como se fossemos dois empesteados na Idade Média. Eu e a Ana trouxemos o caibro no carro, com apoio no vento. No dia anterior ao Natal batemos o recorde indo e indo de ferragens, comprando uma coisinha aqui, outra ali, ainda uma terceira acolá e assim por diante.
Por fim, a Ana ao sair do Big Cristal, percebeu que algo havia batido na tampa traseira do nosso carro e atingido também seu pára-choque, deformando ambos. Então, ou acionávamos o seguro, perdendo cerca de vinte por cento na renovação do mesmo ou tentaríamos processar o hipermercado. Decidimos pagar o prejuízo, antes que ele aumentasse ainda mais.
Cerca de duas semanas antes, desapareceu (assim mesmo!) uma bolsa que a Ana estava usando: dentro dela estavam os documentos do carro, carteira de identidade e assim por diante. Ocorre que o nosso carro tem placa de Fortaleza, Ceará e nós moramos em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Tomadas todas as providências, mandamos doumentação para uma sobrinha querida. Como tínhamos urgência, enviamos por Sedex, entrega 24 horas, mas que só foi entregue três dias depois. Telefonar para os Correios e falar com uma pedra teve o mesmo efeito. Mas também foi resolvido.
Finalmente hoje, 27 de dezembro, as 16h30 temos uma cama desmontada em casa, pois quem iria montá-la ao meio-dia simplesmente ainda não chegou nem mandou sinal de vida. Estamos cansados, exauridos, exaustos. Estamos em processo de desgaste há pelo menos três semanas, com prazos sendo descumpridos, com situações limite acontecendo, enfim, com um pacote de contratempos que poria qualquer casal em pé de guerra, com acusações mútuas sem sentido. Nosso filme preferencial em relação ao que está acontecendo talvez fosse, nesta altura “Mulheres à beira de um ataque de nervos“, do Almodóvar.
Dá pra pensar realmente na famosa teoria da conspiração, mas agora não tem muito sentido. Administramos as situações, mas no momento em que elas dependem de terceiros (e quase sempre dependem), elas encalham, param, não se resolvem. Paciência é não só recomendada, mas é fundamental.
E hoje tem janta na nossa casa, com pelo menos 14 pessoas! Temos sido testados cotidianamente em nossa paciência, mas cada vez que dependemos de terceiros, esses magicamente se transformam que quartos, quintos, sextos e assim por diante. Nesses casos, talvez a solução seja dançar um tango argentino. Por una cabeza talvez fosse a pedida mais exata.
E isso que, da missa, não escrevi nem a metade. Gostaria muito que tudo fosse uma ficção, mas, infelizmente não é.